# 116 - Quando tudo é uma ameaça

É a colega de trabalho que se destacou mais do que você, a amiga do namorado que tem menos celulite, a amiga da sua melhor amiga que tem histórias mais divertidas. Por que certas pessoas e coisas se tornam ameaças aos nossos olhos?


Vivemos no mundo do "mais é melhor", da busca pela inexistente perfeição, da competição constante por sabe-se lá o que. E nós mulheres somos campeãs em inventar corridas que não existem e em que ninguém ganha troféu no final. A competição inerente a certos aspectos da nossa vida, que em certos níveis é de fato saudável e nos motivas a sermos cada vez melhores, muitas vezes foge do controle, criando uma sensação de constante frustração diante de consecutivos fracassos, quando na realidade a vitória não era ao menos possível.

Analisemos isso em seu aspecto histórico. A mulherada antigamente tinha que ser boa no que? Tinha que cozinhar bem, manter a casa organizada, criar os filhos e suprir os desejos sexuais de seu marido. Ok, daí nós reivindicamos nossos direitos, queimamos os sutiãs e entramos no mercado de trabalho. E desse momento em diante nos começou a ser cobrado que tivéssemos educação formal, uma profissão em que fôssemos tão boa quanto eles - os homens, obviamente - e mais tudo aquilo pelo o qual já éramos cobradas anteriormente, afinal de conta a comida ainda precisava ser feita, a casa ainda precisa ser limpa, os filhos criados e pelo menos um boquetinho tinha que rolar pro marido dar aquela sossegada.

E ai, parou por aí? Más é claro que não. Hoje em dia além de cozinhar maravilhosamente, saber limpar uma casa, criar os filhos, ter um bom emprego e se formar na faculdade, a gente tem que ser muito boa de cama - isso mesmo, bons (not) tempos em que fazer o papel de boneca inflável era o suficiente - e ter skills que antes eram somente exclusividade de prostitutas e atrizes pornôs, ter o corpo de uma adolescente de 15 anos independente da nossa idade, e ainda sorrir diante de toda essa cobrança. Suave!

Antes que as feministas me crucifiquem, eu não estou reclamando do nosso direito adquirido de participar igualmente do mercado de trabalho, nem de poder se divertir tanto quando a ala masculina ao dar uma trepada. Tudo isso foi mara e nos abriu um leque de possibilidades nessa nossa vida. Eu apenas estou embasando a origem dessa competitividade tão presente em todos os aspectos da vida feminina.

E assim deixamos de comer aquela porção de batata com bacon e trocamos a cervejinha por uma Coca zero porque o mês que vem vai rolar praia com a galera e aquela amiga super gostosa vai tar lá linda, desfilando de biquíni pra cima e pra baixo, e não dá pra fazer feio e chegar lá com a perna metralhada de celulite né. E o jeito é pedir pra babá ficar duas horas a mais por dia, porque pra ser promovida na frente daquela piranha puxa saco, muitas horas extras serão necessárias. E também tem que aprender a fazer a posição duplo mortal carpado de quatro pro namorado ficar de boca aberta na hora sexo.

E isso dá um start na paranoia. Toda mulher é mais gostosa e tem a bunda mais redonda, todo mundo tem mais capacidade e tem ideias melhores no trampo, todo mundo dá mais e goza mais do que você, todas são melhores mães, namoradas, amigas, amantes, filhas e o caralho a quatro. O namorado não pode olhar pra nega que passou do lado no shopping que lá vai a loucura, analisando o que é que a outra tem que eu não tenho. E aí começou a corrida maluca, em que qualquer uma vira adversária e ninguém sabe muito bem onde é a linha de chegada.


Bréca aí galera, que tá tudo errado! Vamos a alguns pontos...

Primeiro ponto: cadê a porra da autoestima? Serião, porque pra achar que toda e qualquer mulher é mais gostosa, ou mais inteligente, ou trepa melhor do que você é não confiar no próprio taco. É se achar a mosca do cocô do cavalo do bandido, pelamor né. Nós mulheres temos que confiar mais em nossas habilidades, ressaltando as coisas em que somos melhores e trabalhando em cima dos nossos pontos a desejar. Mas ser ameaçada por qualquer bunda que passar na frente do gato, aí não dá né. 

Segundo ponto: nem tudo que reluz é ouro. Nada te garante que aquela nega de corpo escultural é mais feliz do que você que tem um pneuzinho ou outro. Vai lá saber a quanto tempo a coitada não come um lanche do McDonalds, ou quantas vezes por dia ela enfia o dedo na garganta pra se livrar do que comeu. Ninguém te garante que a sua amiga que diz que o namorado tem um pau de 25 cm tá dizendo a verdade. Ninguém te garante que a nega que senta na mesa ao seu lado no escritório não tenha falhas que você não enxerga.

Terceiro ponto: prioridades. Na busca desenfreada pela perfeição em quesitos impostos pela sociedade - moda, revistas de dieta ou qualquer outro veículo ideológico - as metas e os objetivos reais de nossa existência são ofuscados por sapatos e barrigas chapadas. Você se preocupa mais com o tamanho da sua coxa ou com o conteúdo do seu cérebro? Ou melhor ainda, o que é mais ameaçador pra você: uma nega com corpo escultural a repertório sexual vasto, ou uma nega inteligente e interessante?

Nós precisamos aprender a separar aquilo que nos motiva a sermos mulheres melhores daquilo que nos faz sentirmos eternamente como mulheres inferiores as outras. A gente tem que saber enxergar o mundo menos como ameaça e mais como oportunidade de aprender com as diferenças. Ninguém é boa em tudo, believe me! A vida é boa demais pra enxergar toda mulher que passa na sua frente como adversária. Tem troféu pra todo mundo, a gente não precisa cortar a garganta uma da outra pra alcançar o nosso potencial individual.

A vida é muito rápida pra tanta nóia e encanação. A ameaça tá no seu olhar, não no outro.


3 comentários:

  1. owwww se ta em crise ai??????/

    vc é perfeita pra mim amorrrrr!!!!

    ahahahahahaha para de neuraaa....

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  2. hahahaha a neura não é minha não! é de muita gente que eu tenho visto por aí...

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  3. Thanks for the Feedback!! =)

    Mto bom o post Ju!

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